FOTO: YAÇANÃ NEPONUCENA
Dedicando-se à música e à dança, o grupo tem conquistado crescente reconhecimento na região do Cariri
Crato.
"Nessa terra tem palmeiras onde canta o sabiá, o coco da Batateira está
aqui para animar". Cantando assim, um grupo composto por 16
agricultoras, com idades entre 59 e 73 anos, privilegia quem as vê
dançar coco e cantar as toeiras e versos feitos pelas mestras da
comunidade do Bairro da Batateira, em Crato. Fundado em 1979, o Grupo de
Mulheres do Coco da Batateira encanta pela vitalidade e entusiasmo em
mostrar um pouco da tradicional cultura popular da região do Cariri.
Dividido
em uma representação de damas e cavalheiros, na qual sete brincantes
trajam-se de homens e outras sete vestem roupas de mulheres, que se
assemelham às usadas pelas quebradeiras de coco, elas reúnem-se
semanalmente para dançar, cantar e contar suas histórias de vida, seus
problemas do cotidiano. Todas as integrantes do grupo se conheceram na
época em que cursavam o antigo Mobral, como era chamada a alfabetização
de adultos na década de 70.
A partir das comemorações escolares
pelo Dia do Folclore, elas começaram a idealizar o grupo, que permanece
unido até hoje. Ao longo dos anos, as reuniões foram se tornando
frequentes. Inicialmente, sem o apoio dos maridos, mas incentivadas pela
Associação das Mulheres do Crato, o Grupo de Mulheres do Coco da
Batateira cresceu, agregou novas integrantes e, junto com a comunidade,
elas conseguiram conquistar espaço no cenário da cultura popular
regional.
Hoje, o reconhecimento tomou proporções que as próprias
brincantes não esperavam receber. O grupo já foi objeto de estudos de
pesquisadores de São Paulo, Rio de Janeiro, Maranhão e Pernambuco.
Falta de apoio
Mas,
apesar da importância que o grupo exerce no fortalecimento da cultura
popular, ainda falta apoio e incentivo para que as atividades continuem
acontecendo. Sem recursos, o grupo sofre prejuízos por não poder
realizar as reuniões e apresentações com a frequência desejada.
Atualmente,
o problema já compromete até a existência do grupo. Mesmo sendo filiado
à Fundação Mestre Eloi Teles de Morais, que realiza trabalhos voltados
para o fortalecimento do folclore no Município, o Grupo de Mulheres do
Coco do Batateira sente-se desprestigiado pelos órgãos que coordenam as
atividades culturais.
Apesar de o Município dispor de um Centro
Cultural, os grupos de cultura popular ainda recebem pouco apoio. Para
elas, as dificuldades ficaram mais fortes, principalmente, após a morte
de Eloi Teles de Morais, que foi um líder cultural, poeta, radialista e
folclorista, de grande atuação nas manifestações artísticas populares
que aconteceram na cidade. Sua figura esteve, durante mais de 30 anos,
ligada à representatividade dos grupos de cultura popular. Sem ele, as
apresentações das Mulheres do Coco da Batateira em eventos públicos e
privados diminuíram. Em todo o ano de 2011, o grupo realizou apenas seis
apresentações. Já este ano, elas ainda não receberam nenhum convite.
Para
a líder e uma das fundadoras do Grupo de Mulheres do Coco da Batateira,
mestre Edite Dias de Oliveira, é preciso haver mais apoio por parte da
Secretária de Cultura do Município aos grupos de cultura popular, para
que eles voltem a ter o mesmo brilho de antes. "Quando a Fundação Mestre
Eloi Teles estava sob o comando de Cacá Araújo e de Elioná Teles, as
Mulheres do Coco estavam constantemente nas apresentações em eventos.
Agora, a gente quase não é lembrada. Não temos transporte e nem renda
para fazer as fantasias, as vezes nem água nós oferecem, mas mesmo sem
nenhuma remuneração gostamos de nós apresentar e fazemos isso por amor",
diz.
O maior sonho do Grupo de Mulheres do Coco da Batateira é
conseguir o terreirão de ensaio, que por várias vezes foi prometido e
jamais doado. Os ensaios das danças são feitos nos quintais das
residências das integrantes do grupo. Elas planejam arrecadar verbas
para a compra dos instrumentos necessários para acompanhar os versos e
toeiras, pois dos quatro instrumentos, elas só dispõem de um, que é um
pandeiro doado pelo mestre Eloi Teles. Elas esperam que as autoridades
entendam a importância da cultura e estimulem os grupos a continuarem
suas práticas, que geralmente são repassadas entre as gerações.
O Grupo de Mulheres do Coco da Batateira deu origem a grupos mirins de coco, formados pelos filhos e netos das brincantes.
Composição
16
agricultoras da região do Cariri compõem o grupo de Mulheres do Coco da
Batateira, que se reúne semanalmente para cantar, dançar e contar
histórias de vida.
7 mulheres do grupo se trajam como
cavalheiros, enquanto outras 7 se vestem como damas, em uma das
apresentações desempenhadas pelas brincantes.
Legado Cultural
"Se antes de morrer, eu conseguir deixar um terreiro todo equipado para os jovens, eu morro feliz"
Edite Dias de OliveiraMestre do grupo
"Quando não tem apresentação, os ossos endurecem, a mente esquece os versos. Temos saudade dos eventos"
Zenaide Matos SilvaMestre de toeira
YAÇANÃ NEPONUCENAREPÓRTER
FOTO: YAÇANÃ NEPONUCENA
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