Fundação Raimundo Fagner, em Orós, completará uma década de ações voltadas para a qualidade da educação
Orós. Há nove anos, uma semente no meio do sertão começava a germinar. Era a semente da música, da arte, de uma nova proposta de educação continuada que daria vida nova aos jovens do município de Orós, distante 354 quilômetros de Fortaleza. Lá, na Fundação Raimundo Fagner, as crianças e os jovens aprendem a cantar, atuar e, principalmente, são motivados a desenvolver suas habilidades musicais. Tanto pela manhã quanto à tarde, os jovens atendidos pela Fundação participam de um programa educacional diferenciado das escolas convencionais. É um local onde os jovens são integrados diretamente com a música e os seus respectivos dons são avaliados desde o primeiro dia em que ingressam na entidade.
Por mais que seja uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), a Fundação Raimundo Fagner não possui fins lucrativos e só atende a crianças que são admitidas por um teste de seleção. Dessa forma, todas as crianças e jovens atendidos pela fundação assumem a responsabilidade e o compromisso de cumprir as regras e de respeitar os demais colegas.
De acordo com o coordenador da Fundação Raimundo Fagner em Orós, César Holanda, o teste de admissão dos novos alunos é realizado para conhecer quais as habilidades que cada um terá de desenvolver nos dez anos de permanêcia na instituição. Assim, as crianças podem ingressar a partir dos 7 anos e sair somente aos 17 e estarão aptas para dar continuidade à carreira de músicos, caso desejem. Todo esse tempo, para os alunos, resume-se em uma nova vida.
Para César Holanda, o foco do trabalho é a arte inserida na música. Desta forma, a didática usada pela fundação e pelos educadores mudam a cada semestre. Para este período, por exemplo, os alunos aprendem o estilo musical Barroco — correlacionada com a época cultural homônima na Europa, que vai desde o surgimento da ópera, por Cláudio Monteverdi no século XVII, até à morte de Johann Sebastian Bach, em 1750 — e desenvolvem as atividades a partir deste estilo.
“Como cada música tem sua época, fazemos o mesmo com os alunos. Esse ano, os estudos estão voltados para o Barroco. Eles já estudaram a música renascentista no ano passado, que rendeu o espetáculo Romeu e Julieta, apresentada em diversas cidades da região”, salienta o coordenador.
Seleção
A Fundação Raimundo Fagner especifica alguns critérios para que as crianças participem dos projetos. Além da prova de admissão, são analisadas as condições salariais da família do novo aluno. “É preciso saber se os alunos pertencem às famílias de baixa renda e o rendimento deles na escola também é avaliado”, diz. O resultado da preocupação com os alunos que ingressam na instituição é motivada pela qualidade do profissional que está apto a deixar a instituição. “Já saíram alunos daqui que hoje são professores de teatro”.
Para a diretora administrativa da fundação, Maninha Moraes, a instituição tem um papel muito importante para a comunidade, uma vez que a cidade de Orós ainda carece de trabalhos sociais na área da cultura. “A instituição foi fundada para dar uma nova oportunidade aos jovens”. Prestes a completar dez anos de funcionamento, a fundação já se preocupa com os jovens que irão sair da instituição no próximo ano. “A fundação se preocupa em aproveitar os alunos para a monitoria”, salienta.
Para ela, não se faz um trabalho desses sem contar com a ajuda das instituições parceiras. Tanto no município de Orós quanto em Fortaleza, a Fundação Raimundo Fagner desenvolve os mesmos projetos de qualificação educacional. Nos noves anos de atuação, a instituição garantiu três importantes prêmios concedidos pelos trabalhos realizados: Prêmio Itaú-Unicef, Criança Esperança e Cultura Viva, do Ministério da Cultura.
FIQUE POR DENTRO
Projetos desenvolvidos pela Fundação em Orós
Os projetos atendem a 300 crianças e adolescentes. Em Orós, os alunos participam dos projetos ´Aprendendo com Arte´, que prioriza a sensibilização dos jovens por meio do exercício da criatividade e da expressão de suas emoções; ´Esporte para Jovens´, ´Canteiros Musicais´ e ´Projeto Nas Ondas do Rádio´. Outros incluem ´Estopa e Retalhos´, promovido pelas famílias e pelas crianças em parceria com o Café Santa Clara para a produção de artesanato; e ´Sorriso Feliz´, que disponibiliza de profissionais comprometidos com a qualidade de vida dos jovens e ações para a higiene bucal.
METODOLOGIA
Professores destacam dinâmica no ensino
Orós. O sucesso obtido pela Fundação Raimundo Fagner não seria possível se, nos bastidores, não existisse o trabalho e o compromisso dos educadores. Eles são os responsáveis pela dinâmica no ensino e pelos novos conhecimentos que os alunos irão adquirir nos dez anos que permanecerão na instituição. O trabalho é gratificante, mas o mais importante é a responsabilidade assumida pelos educadores no que se refere à promoção de uma educação de qualidade. Para cada atividade, canto, instrumentos musicais, artes cênicas e artesanato, um professor responsável.
De acordo com a educadora da fundação Janete Ferreira Vieira, 29 anos, o melhor resultado é saber que os alunos terão a oportunidade de abrir os horizontes para as novas perspectivas de vida. As atividades de artes plásticas, por exemplo, podem despertar no aluno o seu desejo de seguir esta carreira. “As aptidões deles são avaliadas aqui e muito aprimoradas. Trabalhamos para que os alunos saibam e conheçam o que eles gostam e querem fazer”, diz.
Diferente de Janete, que já atuava como professora em Orós, é o trabalho desenvolvido por Maurício Maciel. Seu primeiro emprego foi na Fundação Raimundo Fagner e já mostra satisfação. Maurício é responsável pelas aulas de História da Arte e da Recreação e Esporte. “Para mim foi mais um desafio a ser vencido. Mas até então, o que se tinha idéia era da escola convencional e aqui foge muito à regra”, diz.
Para ele, os conteúdos passados aos alunos incluem lições de cidadania, igualdade e respeito entre os alunos. “Aqui, a fundação acaba sendo também a casa dos alunos”, ressalta.
Atividades
De acordo com a diretora de projetos da Fundação Raimundo Fagner, Tereza Tavares, os projetos desenvolvidos nas duas sedes são elaborados em parceria para que os jovens de Orós e de Fortaleza sejam beneficiados pelos mesmos programas. “As atividades são desenvolvidas em conjunto. Tudo para que os alunos possam ser beneficiados em todos os aspectos, sem deixar ninguém de fora”, ressalta.
COMPROMISSO
Mães auxiliam professores nas atividades da fundação
Orós. Além da atuação dos educadores, uma das principais participações na Fundação Raimundo Fagner é das mães dos alunos. Seja no período da manhã ou da tarde, algumas delas vão à instituição somente com um objetivo: ajudar no que for preciso. Seja na hora do lanche, nas atividades educacionais, as mães estão presentes. Para elas, os pais têm o dever de acompanhar o desenvolvimento dos filhos, mais ainda quando se trata de educação.
Para Gislene Mendes Viana, mãe do aluno Abdon Mendes Viana, de 13 anos, a participação dos pais é fundamental. “Venho ajudar os funcionários sempre quando posso. Às vezes fico na cantina, cuido do lanche das crianças. Não vai faltar serviço para a gente fazer”, diz. Além de Gislene, outras mães também participam das atividades desenvolvidas pela fundação. “Acho muito gratificante ficar na fundação e ajudar os professores. Venho até ajudar quando tem as festinhas dos alunos. Sempre é bom ficar perto dos filhos, saber o que eles estão aprendendo e incentivar para que eles continuem nos estudos”, destaca.
No entanto, o mais gratificante para Gislene é ver seu filho participando dos projetos educacionais e poder seguir uma carreira no futuro.
NOVA VIDA
Aluno salienta desenvolvimento nos projetos educacionais
Orós. Para muitos jovens, ser atendido pela Fundação Raimundo Fagner, em Orós, é uma mudança de vida. Assim como acontece com Jeferson, Geissy e Karina, o estudante Felipe Vieira também destaca que os projetos da fundação são importantes para se pensar em um novo futuro. “Tudo em mim melhorou. Tenho um bom comportamento, sempre que o professor pede alguma coisa eu faço. E hoje eu sou monitor”, diz. Prestes a sair da Fundação, pois vai completar 17 anos em 2010, Felipe diz que sua passagem pela instituição foi bastante proveitosa, mas revela a saudade que terá do lugar: “Vou ficar um pouco triste, porque tudo isso foi ímpar na minha vida”.
Mais informações:
Fundação Raimundo Fagner
Travessa da Matriz, S/N - Orós
(88) 9957.5080
Sítio Canteirão - Fortaleza
(85) 3274.3726
Fonte: DN
Foto: Kid Júnior
Reportagem: MAURÍCIO VIEIRA
Repórter
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